Por Cacá Araújo*
O clima é de empunhar a flâmula da resistência ao golpe e de realinhamento do governo com os movimentos sociais.
Render-se ao agronegócio em detrimento de bandeiras históricas dos sem-terra não segurou os latifundiários uderristas; favorecer o crédito popular elevando milhões de miseráveis sem-nada à condição de consumidor mediano, incrementou o mercado financeiro, catapultou os lucros dos bancos, mas não conteve a gana dos endinheirados capitalistas; lotear o governo, distribuindo cargos e privilégios, segundo o mais clássico padrão de fisiologismo, não aplacou a picaretagem de peemedebistas et caterva.
Aumentar direitos sociais diminui apropriação privada. Não adianta desideologizar a cena da batalha. O que ocorre atualmente no Brasil não é o barbarismo da luta entre ricos e pobres, mas a expressão clara e cruel de acirrada luta de classes em que o Estado é disputado por setores antagônicos, com projetos distintos para o país: um de cunho democrático e progressista, com atenção, ainda que limitada, às demandas de emancipação popular e fortalecimento da soberania nacional; e outro de caráter fascista, de entreguismo e submissão às multinacionais norte-americanas, de favorecimento das elites locais.
A direita, em suas feições mais extremas, atropela o Estado Democrático de Direito não para simplesmente promover o impeachment da presidenta Dilma Roussef, contra quem não pesa nenhum crime de responsabilidade, mas para por fim às conquistas que o povo e a Nação obtiveram nestes últimos treze anos e entregar o país e nossas riquezas aos senhores de Whashington.
O conluio entre a mídia corrupta, o judiciário partidarizado e o parlamento atolado em crimes de toda ordem, objetiva mutilar a democracia através de fraude jurídica sem precedentes, sustar as investigações de corrupção, varrer a esquerda do cenário político e restabelecer a ordem burguesa com tucanos, peemededemos e demais arautos do larapismo nacional. Ariano Suassuna já previa sabiamente que não seria com tanques e exércitos que Tio Sam dominaria os povos, mas principalmente através da mídia idiotizante e corruptora.
Um tempo de abandono de políticas sociais, maior concentração de renda, privatizações (principalmente da Petrobras), desemprego, perda de direitos trabalhistas, ataque às liberdades democráticas, perseguições políticas, prisões ilegais, tortura e morte, deverá vir com a concretização do golpe orquestrado pela Casa Branca. E não é somente o Brasil. Toda a América Latina está no cardápio insano do imperialismo ianque - fiador da desconstrução das democracias e da conspiração contra governos legitimados pelo voto popular.
Só há um caminho para conter o golpe, consolidar e ampliar conquistas: grandes mobilizações nacionais, combinadas com manifestações permanentes de foco nas universidades, escolas, comunidades religiosas, sindicatos, associações moradores, coletivos culturais, lgbts, negros, índios, mulheres... da cidade e do campo. Derrotar a direita fascista, expurgar alianças fisiológicas, vetar o funcionamento da mídia criminosa, abandonar a perspectiva de conciliação com as elites retrógradas, educar o povo no contexto da emancipação humana, fortalecer a esquerda no poder e fazer dos movimentos sociais o motor das novas conquistas democráticas.
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