segunda-feira, 24 de novembro de 2014

45% não se reelegem na Câmara, mas especialistas questionam renovação


A atual formação da bancada cearense na Câmara dos Deputados conta com dez parlamentares que não foram eleitos para os próximos quatro anos e a lista contempla, principalmente, os deputados federais que já estão na quarta, quinta ou até mesmo na sexta legislatura consecutiva, levantando diversos questionamentos acerca das razões que levaram políticos cearenses veteranos ao insucesso no pleito deste ano.
A avaliação dos cientistas políticos, no entanto, é que a renovação revelada nas urnas eletrônicas significou muito mais a acomodação destes veteranos durante a campanha eleitoral do que a demonstração do desejo da sociedade em atualizar os quadros cearenses do Congresso Nacional. No atual conjunto de dez deputados federais cearenses não eleitos para a próxima legislatura, contabilizando também os que não tentaram a reeleição, apenas três estão no primeiro mandato.
O deputado Ariosto Holanda (PROS), de 76 anos, já está no sexto mandato consecutivo. Ou seja, desde a eleição de 1990 que o parlamentar figurava entre os escolhidos para compor a bancada cearense na Câmara dos Deputados, mas o parlamentar obteve somente cerca de 60 mil votos na eleição deste ano, ficando apenas como suplente. O deputado José Linhares (PP), de 84 anos, é outro que já está no sexto mandato e deixará o Parlamento, mas ele não tentou a reeleição para concorrer como primeiro suplente na chapa do ex-candidato ao Senado, Mauro Filho.
O deputado Vicente Arruda (PROS), com 85 anos, está no quinto mandato consecutivo. O parlamentar ocupa a bancada cearense desde 1995, mas não recebeu mais que aproximadamente 70 mil votos, terminando o pleito deste ano também apenas como suplente. Já no quarto mandato na Câmara, o deputado federal Mauro Benevides (PMDB), com 84 anos, obteve cerca de 60 mil votos, alcançando somente a vaga de suplente na próxima legislatura.
Manoel Salviano (PSD) é outro veterano que também não vai compor a Câmara Federal durante os próximos quatro anos. Com 75 anos, ele está no quarto mandato consecutivo, mas não tentou a reeleição. A princípio, o filho dele, Samuel Salviano, chegou a lançar a candidatura junto Tribunal Regional Eleitoral, mas acabou renunciando. O deputado Edson Silva (PROS), com 65 anos, também não conseguiu a reeleição, após três mandatos como deputado federal, cumprindo os dois primeiros ainda no início da década de 90.
Já os deputados Eudes Xavier (PT) e Mário Feitoza (PMDB) foram as exceções na lista dos não eleitos, pois o petista não conseguiu a reeleição, apesar de estar somente no segundo mandato na Câmara, enquanto o peemedebista fracassou no pleito ainda estando na primeira legislatura. Os deputados Artur Bruno (PT) e João Ananias (PcdoB) deixam também a bancada da Câmara Federal após cumprir somente o primeiro mandato, mas nenhum dos dois disputou a reeleição.
Na avaliação da professora de ciência política Carla Michele Quaresma, do Centro Universitário Estácio do Ceará, o olhar distante sobre a taxa de renovação da bancada cearense na Câmara Federal pode levar a uma análise precipitada de que o eleitorado no Ceará demonstrou nas urnas o desejo de mudança, mas ela acredita que outros fatores tiveram maior peso no processo eleitoral.
Carla Michele Quaresma afirmou que a excessiva confiança de que o voto estava garantido levou alguns parlamentares a se acomodarem durante a campanha eleitoral. "Tem uma frase de Maquiavel em que ele diz que o político tem que pensar na guerra mesmo em tempos de paz. É um sentimento de confiança muito grande que alguns deputados têm. Muitos ficam achando que sempre irão ter aquele cargo, mas o eleitorado se renova", chamou a atenção.
A professora ressaltou que a manutenção de bases eleitorais construídas nas relações com prefeitos, vereadores e lideranças locais ainda têm um peso fundamental no resultado da eleição. No entanto, esse tipo de apoio, segundo Carla Quaresma, é muito oportunista, exigindo de cada candidato um intenso trabalho de manutenção das alianças para tentar se chegar ao sucesso no pleito.
A aversão ao chamado político profissional por parte do eleitorado, segundo Carla Michele Quaresma, também ainda está distante de ser concretizada. Para o professor de ciência política Clésio Arruda, da Universidade de Fortaleza (Unifor), diversos fatores podem explicar o insucesso de parlamentares mais antigos da bancada cearense na Câmara Federal, mas o especialista pontuou como principal o aumento da influência do poder econômico no resultado do pleito deste ano.
Na opinião de Clésio Arruda, o aumento da influência do poder econômico favoreceu os candidatos com alto poder aquisitivo, provocando o surgimento de novos nomes sem muita tradição na política, mas com condições financeiras de investir elevados montantes durante a campanha eleitoral. "Não dá para identificar somente um fator, mas temos um sistema político em que o poder financeiro é a principal variável. Esse modelo favorece aqueles que têm condições de investir alto numa campanha eleitoral", avaliou.
A professora Carla Michele lembrou que, na eleição da bancada para a Câmara, os cearenses também escolheram nomes já consolidados no cenário político local, como Moroni Torgan e Luizianne Lins, comprovando a tese de que não houve uma efetiva renovação.

 DN

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