segunda-feira, 18 de maio de 2015

Conjugação de crises revela desgaste nos quatro meses de Governo Dilma


Um governo paralisado em meio a uma líder que se inclina ao isolamento diante das adversidades políticas e econômicas que atingem o segundo mandato. É assim que os especialistas ouvidos pelo Diário do Nordeste observam a crise vivida pela presidente Dilma Rousseff (PT) nos últimos quatro meses.
Longe de ser diagnosticado como um colapso institucional, o cenário vivenciado pelo Palácio do Planalto, de acordo com o cientista político e professor da Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), Aldo Fornazieri, revela a conjugação de quatro crises: a política, que é marcada pela falta de legitimidade dos partidos políticos e das instituições; a moral, a qual é decorrente da sucessão de escândalos de corrupção; a econômica, que é atentada pelo não crescimento do mercado; e a fiscal, definida pelas dificuldades de caixa da União, dos Estados e dos municípios, o que dificulta investimentos e mesmo o atendimento de políticas públicas.
Como resultado de todos estes fatores, Dilma atingiu a maior falta de confiança em 20 anos. Segundo levantamento do Ibope divulgado em abril, apenas 24% dos entrevistados dizem confiar na petista. O pior resultado havia sido verificado em 1999, no início do segundo mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que tinha a confiança de apenas 27% da população. O resultado das pesquisas é visto nas ruas com manifestações e panelaços contrários à presidente.
"O governo está na defensiva por toda a circunstância que está aí. Dilma chegou a ter apoio de dois terços nas pesquisas e agora está na situação de inversão com dois terços de rejeição. Isso tem a ver com a crise econômica e suas repercussões sociais, como o desemprego, a diminuição da renda, os ajustes fiscais, que alimentou o sentimento de traição, gerando insatisfação popular. Aliado a tudo isso, tem o problema da (Operação) Lava-Jato, que trouxe à tona a questão da corrupção (na Petrobras)", completou o cientista político da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Jorge Almeida.
Falha na articulação
No plano político, o coordenador do curso de Relações Internacionais do Ibmec no Rio de Janeiro, José Niemeyer, resume os problemas de gestão enfrentados por Dilma como uma "crise de governabilidade", deflagrada pela falha na articulação política, a qual, segundo ele, é essencial para a manutenção do presidencialismo de coalizão.
"No sistema presidencialista você precisa ter coalizão para poder governar. Porém, atualmente o Congresso está com uma postura mais reativa com relação ao que o Executivo propõe", explica o cientista político.
Os especialistas consideram que a dificuldade do governo de dialogar inclusive com membros da base aliada é uma consequência, ainda, do desenrolar da Operação Lava-Jato, que está investigando 50 políticos e operadores possivelmente envolvidos no esquema de corrupção da Petrobras. "Embora quase nada do que sabemos desta Operação até o momento tenha origem no governo, o fato é que as investigações envolvem membros do governo - pessoas ou partidos da base aliada. Nesse sentido, acaba criando uma crise para Dilma, que contamina a relação dela com o Congresso", avaliou o professor de ciências políticas do Programa de Pós-graduação em Sociologia Política da Universidade Vila Velha (UVV), Vitor Amorim de Angelo.
As denúncias de fraudes na estatal têm relação direta com a dificuldade do Executivo de conseguir o apoio dos congressistas na votação de matérias importantes para o Planalto, como foi o caso do Orçamento 2015, que demorou mais de três meses para conseguir ser aprovado pelo Congresso.
A cientista política do Ibmec-RJ, Christiane Romêo, observa que, diante da divulgação da lista de parlamentares envolvidos em irregularidades na estatal, políticos tanto da base quanto da oposição têm usado matérias importantes para o governo como moeda de troca, exigindo do Executivo reforço na articulação. Segundo ela, a demora nas votações tira o foco dos suspeitos de participação no esquema e prejudica a imagem do governo. "Para além da questão dos atrasos ou descumprimentos contratuais, um impasse entre Legislativo e o Executivo, qualquer que seja, gera uma paralisia nas decisões políticas, afetando como um todo o funcionamento normal do País", analisou.
Tensão intrapartidária
José Niemeyer argumenta que, além da relação estremecida entre o Planalto e o Congresso, a crise política acena para rachaduras internas no próprio partido governista. Um exemplo disso, apontou o professor, foi a falta de consenso da bancada petista para apoiar a votação do ajuste fiscal na Câmara. As medidas provisórias 665 e 664, que trazem mudanças sobre os benefícios previdenciários e trabalhistas e a concessão de pensões, eram tidas pelo governo como essenciais para sanar os problemas na economia e garantir o crescimento do País, mas foi preciso muito esforço do líder do governo na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE), para que os colegas chegassem a um entendimento. "Ficou mais perceptível que as diferenças estão mais intrapartidárias do que interpartidárias. Há uma relação pior dentro do PT do que na antiga polarização entre PT e PSDB", disse Niemeyer.
"O Partido dos Trabalhadores é bom para fazer oposição, mas não é bom para governar, porque não admite desgaste", criticou o cientista político da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Adriano Oliveira.
Para superar a crise, os especialistas são unânimes em dizer que a presidente precisa ampliar o diálogo com os movimentos sociais, partidos e empresários. Além disso, Dilma precisará traçar estratégias de gestão mais claras. "Quando ela começar a aparecer, ela reconquistará eleitores", disse Adriano Oliveira.

"O governante precisa mostrar qual caminho que o país deve seguir. O que se observa é que o governo tem dificuldade para ajudar a formular uma saída estratégica", afirmou Fornazieri.
fonte: DN

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