Um governo
paralisado em meio a uma líder que se inclina ao isolamento diante das
adversidades políticas e econômicas que atingem o segundo mandato. É assim que
os especialistas ouvidos pelo Diário do Nordeste observam a crise vivida pela
presidente Dilma Rousseff (PT) nos últimos quatro meses.
Longe de ser
diagnosticado como um colapso institucional, o cenário vivenciado pelo Palácio
do Planalto, de acordo com o cientista político e professor da Escola de Sociologia
e Política de São Paulo (FESPSP), Aldo Fornazieri, revela a conjugação de
quatro crises: a política, que é marcada pela falta de legitimidade dos
partidos políticos e das instituições; a moral, a qual é decorrente da sucessão
de escândalos de corrupção; a econômica, que é atentada pelo não crescimento do
mercado; e a fiscal, definida pelas dificuldades de caixa da União, dos Estados
e dos municípios, o que dificulta investimentos e mesmo o atendimento de
políticas públicas.
Como
resultado de todos estes fatores, Dilma atingiu a maior falta de confiança em
20 anos. Segundo levantamento do Ibope divulgado em abril, apenas 24% dos
entrevistados dizem confiar na petista. O pior resultado havia sido verificado
em 1999, no início do segundo mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso
(PSDB), que tinha a confiança de apenas 27% da população. O resultado das
pesquisas é visto nas ruas com manifestações e panelaços contrários à
presidente.
"O
governo está na defensiva por toda a circunstância que está aí. Dilma chegou a
ter apoio de dois terços nas pesquisas e agora está na situação de inversão com
dois terços de rejeição. Isso tem a ver com a crise econômica e suas
repercussões sociais, como o desemprego, a diminuição da renda, os ajustes
fiscais, que alimentou o sentimento de traição, gerando insatisfação popular.
Aliado a tudo isso, tem o problema da (Operação) Lava-Jato, que trouxe à tona a
questão da corrupção (na Petrobras)", completou o cientista político da
Universidade Federal da Bahia (UFBA), Jorge Almeida.
Falha na articulação
No plano
político, o coordenador do curso de Relações Internacionais do Ibmec no Rio de
Janeiro, José Niemeyer, resume os problemas de gestão enfrentados por Dilma
como uma "crise de governabilidade", deflagrada pela falha na articulação
política, a qual, segundo ele, é essencial para a manutenção do
presidencialismo de coalizão.
"No
sistema presidencialista você precisa ter coalizão para poder governar. Porém,
atualmente o Congresso está com uma postura mais reativa com relação ao que o
Executivo propõe", explica o cientista político.
Os
especialistas consideram que a dificuldade do governo de dialogar inclusive com
membros da base aliada é uma consequência, ainda, do desenrolar da Operação
Lava-Jato, que está investigando 50 políticos e operadores possivelmente
envolvidos no esquema de corrupção da Petrobras. "Embora quase nada do que
sabemos desta Operação até o momento tenha origem no governo, o fato é que as
investigações envolvem membros do governo - pessoas ou partidos da base aliada.
Nesse sentido, acaba criando uma crise para Dilma, que contamina a relação dela
com o Congresso", avaliou o professor de ciências políticas do Programa de
Pós-graduação em Sociologia Política da Universidade Vila Velha (UVV), Vitor
Amorim de Angelo.
As denúncias
de fraudes na estatal têm relação direta com a dificuldade do Executivo de
conseguir o apoio dos congressistas na votação de matérias importantes para o
Planalto, como foi o caso do Orçamento 2015, que demorou mais de três meses
para conseguir ser aprovado pelo Congresso.
A cientista
política do Ibmec-RJ, Christiane Romêo, observa que, diante da divulgação da
lista de parlamentares envolvidos em irregularidades na estatal, políticos
tanto da base quanto da oposição têm usado matérias importantes para o governo
como moeda de troca, exigindo do Executivo reforço na articulação. Segundo ela,
a demora nas votações tira o foco dos suspeitos de participação no esquema e
prejudica a imagem do governo. "Para além da questão dos atrasos ou descumprimentos
contratuais, um impasse entre Legislativo e o Executivo, qualquer que seja,
gera uma paralisia nas decisões políticas, afetando como um todo o
funcionamento normal do País", analisou.
Tensão intrapartidária
José
Niemeyer argumenta que, além da relação estremecida entre o Planalto e o
Congresso, a crise política acena para rachaduras internas no próprio partido
governista. Um exemplo disso, apontou o professor, foi a falta de consenso da
bancada petista para apoiar a votação do ajuste fiscal na Câmara. As medidas
provisórias 665 e 664, que trazem mudanças sobre os benefícios previdenciários
e trabalhistas e a concessão de pensões, eram tidas pelo governo como
essenciais para sanar os problemas na economia e garantir o crescimento do
País, mas foi preciso muito esforço do líder do governo na Câmara, deputado
José Guimarães (PT-CE), para que os colegas chegassem a um entendimento.
"Ficou mais perceptível que as diferenças estão mais intrapartidárias do
que interpartidárias. Há uma relação pior dentro do PT do que na antiga
polarização entre PT e PSDB", disse Niemeyer.
"O
Partido dos Trabalhadores é bom para fazer oposição, mas não é bom para
governar, porque não admite desgaste", criticou o cientista político da
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Adriano Oliveira.
Para superar
a crise, os especialistas são unânimes em dizer que a presidente precisa
ampliar o diálogo com os movimentos sociais, partidos e empresários. Além
disso, Dilma precisará traçar estratégias de gestão mais claras. "Quando ela
começar a aparecer, ela reconquistará eleitores", disse Adriano Oliveira.
"O
governante precisa mostrar qual caminho que o país deve seguir. O que se
observa é que o governo tem dificuldade para ajudar a formular uma saída
estratégica", afirmou Fornazieri.
fonte: DN
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