segunda-feira, 10 de novembro de 2014

A saída de deputados para o secretariado


Questionando quantos deputados estaduais poderiam sair da Assembleia, a partir do próximo ano, para compor o secretariado do Governo Camilo Santana (PT), aflora a discussão sobre o nível qualitativo do nosso Poder Legislativo, cujos integrantes saíram das urnas no pleito encerrado em 5 de outubro passado.
O governador, se realmente for primar pela qualificação dos seus auxiliares, e acreditamos que perseguirá esse objetivo, não terá como convocar a quantidade de deputado estadual que os suplentes esperam ser chamados, para permitir a abertura de vagas e ensejar suas convocações ao exercício do mandato.
Não exagera quem afirma estar sendo degradada, a cada eleição, a representação popular. Esse mal, porém, não é um privilégio dos cearenses. É inconteste essa decadência nas três esferas legislativas nas diversas unidades da Federação.
Hoje, é deveras reduzido o número de bons tribunos, de profissionais liberais de reconhecido comportamento ético e moral eleitos sem a permuta do voto por dinheiro, ou outras benesses. Pessoas cumpridoras dos deveres atribuídos aos integrantes do Poder Legislativo. Esta realidade, que dentre outros males prejudiciais à própria sociedade, também é a responsável pela relação às vezes pouco respeitosa entre Poderes. 
Cid Gomes (PROS), em seu primeiro mandato, iniciado em janeiro de 2007, ainda no PSB, convocou seis deputados estaduais (Artur Bruno, Ivo Gomes, João Ananias, Marcos Cals, Mauro Filho e Nelson Martins) para ajudá-lo na administração.
Suplentes
Repetiu o mesmo número após ter sido reeleito em 2010 (Camilo Santana, Gony Arruda, Ivo Gomes, Mauro Filho, Nelson Martins e Professor Pinheiro). Nesta, já permitiu que se lhes fizesse alguma censura sobre a qualificação de uns em relação aos cargos, não por ter deixado de escolher os melhores dentre os seus correligionários, mas por não ter opção de fazê-lo, em face da queda qualitativa da representação que está encerrando a presente legislatura.
Para desespero de suplentes, a partir de 2015, o fato é que a base governista, com quase dois terços da composição do Legislativo, não oferece nomes à altura de um secretariado merecedor dos aplausos de tantos quantos torcem para o sucesso do Governo, a começar em janeiro próximo, sem, contudo, esfacelar a própria estrutura parlamentar que ele precisa ter na Assembleia, a partir de integrantes da Mesa Diretora, do líder e vice-líder, quadros imprescindíveis à tranquilidade, ou de menos apreensão do governante.
Nenhum chefe de Executivo tem obrigação de convocar legislador para ser secretário ou ministro, mas os compromissos de ordem política os motivam a utilizar-se dessa prática diuturna ora existente. Também não deve ter pejo algum vereador, deputado ou senador convidado a deixar a Casa legislativa a que pertença para atender a um convite de prefeito, governador ou presidente, por alguém questioná-lo a se afastar do mandato, quando teria pedido votos para ser legislador e não executivo. Em qualquer das posições o objetivo é servir ao povo.
Mas se Camilo tem um espaço pequeno para enriquecer sua futura equipe com deputados, menor ainda é a chance de o Ceará ter um Legislativo altivo, capaz de, com a serenidade reclamada ao homem público, sobretudo ao detentor de mandato, exercer na plenitude o seu mister, com os deputados ajudando a governar o Estado, não só por dizer amém ao governante, mas por ter competência de questionar suas ações, fiscalizando os seus atos, sugerindo, modificando para melhorar os seus projetos, enfim, sendo partícipe.

A presente legislatura está se despedindo deixando muito a desejar. Os deputados são omissos em vários itens das suas competências. Poucos, pouquíssimos mesmo, sabem para que existe o Poder Legislativo. Raríssimos são os que conhecem a Constituição do próprio Estado que juraram cumprir e o Regimento Interno da Casa, orientador das suas ações no Plenário e nas Comissões Técnicas. Talvez por isso, estas têm papel secundário, quando deveriam ser o ponto central da ação.

DN

Nenhum comentário: