Guerra da Coreia. 1951. Veio a ordem superior: apenas um correspondente participaria da operação Tomahawk, em Munsan, pulando de paraquedas com os soldados norte-americanos. Único cearense entre candidatos de todo o mundo, Luciano Carneiro, a serviço da revista O Cruzeiro, fez sua proposta: o vencedor seria escolhido em um torneio de xadrez.
O jornalista, fotógrafo, aviador e paraquedista, também teve seus dias de tabuleiro. Ouviu por aí que os russos eram os melhores com o xadrez e decidiu comprar vinis que lhe ensinassem a língua eslava. Queria ser melhor enxadrista que o irmão mais velho. Quando venceu o torneio e saltou sobre a Coreia do Sul - tendo optado por seu equipamento diante da diretiva “uma câmera ou uma arma” - legou para o mundo imagens que refletiam o olhar delicado e audacioso de um jovem de 25 anos.
“Ele fez do jornalismo algo muito direto, onde a informação era o mais relevante. Isso caracteriza o perfil do Luciano. Ele representou, talvez, uma nova vertente do fotojornalismo, mais engajado, que enfrentava outras posturas mais sensacionalistas”, defende Sergio Burgi, coordenador de fotografia do Instituto Moreira Salles (IMS) e curador da exposição Do Arquivo de um Correspondente Estrangeiro: Fotografias de Luciano Carneiro, em cartaz na sede paulista do Instituto desde o dia 22 de fevereiro.
Competidor nato, não admitia a possibilidade de não estar no lugar certo, na hora certa. Movido por esse espírito, viveu, fotografou e escreveu - Luciano tinha uma coluna fixa em O Cruzeiro - momentos cruciais que definiram a conjuntura global na década de 1950. Somam-se à da Guerra da Coreia as coberturas que realizou da Revolução Cubana, da vida na União Soviética, dos jangadeiros no nordeste, e das heranças do cangaço. Viajou por quatro continentes, colecionou amigos - o cartunista Ziraldo foi um deles - e admiradores que o apelidaram de Robert Capa brasileiro.
“Pra mim, com inveja, foi a ida ao cu da África para encontrar o doutor Schweitzer (importante médico alemão) em sua aldeia de leprosos, em uma colônia chamada Lambarene”, comenta o fotógrafo Flávio Damm, companheiro de Luciano na redação de O Cruzeiro, quando perguntado sobre a cobertura mais relevante que o cearense teria realizado. Dos mais prestigiados fotógrafos do País, Damm participou, ao lado de Luciano e do piauiense José Medeiros, do processo de modernização da linguagem fotográfica nacional.
Em 1959, quando voltava ao Rio de Janeiro depois de cobrir o primeiro baile de debutantes da nova capital federal, foi vítima de uma acidente aéreo. Em seu velório, colegas de redação, comovidos, lançaram rolos de filme sobre seu túmulo. Aos 33 anos, morreu no ar o cearense que não podia tirar a cabeça das nuvens.
Publicada no jornal O Povo
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