O juiz Sergio Moro, que conduz a Operação Lava Jato, sofreu ontem sua primeira derrota diante da opinião pública. Segundo reportagem do portal da revista Exame, a hashtag #ExplicaMoroPorqueSoPT chegou ao primeiro lugar dos assuntos mais comentados do dia no Brasil.
Como uma das imagens da Justiça é a cegueira ao mundo exterior, para garantir sua imparcialidade, o carimbo de um juiz que cumpre uma agenda política não contribui para a imagem de herói nacional, construída por alguns meios de comunicação – em especial a Globo, que deu a ele o prêmio de Brasil que "faz diferença".
Ontem, o jornalista Renato Rovai, que edita a revista Fórum, publicou um texto que se encaixa nesse contexto. "Livre de qualquer investigação, Aécio comemorou a prisão de Vaccari e começou a articular o impeachment de Dilma. E junto dele, com a mesma cara de pau, estava o presidente do DEM, Agripino Maia, acusado de receber R$ 1 milhão em propina", disse ele no artigo 'Vaccari e Aécio: dois citados na Lava Jato. Um é preso. O outro pede impeachment'.
As citação a Aécio não são menos graves do que as que atingem Vaccari. Segundo a Polícia Federal, o tesoureiro do PT foi preso porque, além das delações, foram encontrados "depósitos picados" de R$ 300 mil nas contas de seus familiares ao longo dos últimos anos.
Aécio foi citado pelo protagonista do enredo, o doleiro Alberto Youssef, como 'dono' de uma diretoria em Furnas, a de Dimas Toledo, que pagava um mensalão de US$ 120 mil a políticos durante o governo FHC (assista aqui o vídeo e leiareportagem do Tijolaço a respeito).
Ao se focar apenas no PT, cumprindo uma agenda que parece ter como objetivo a própria extinção do partido, como defende o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), Moro cria, nas palavras do jornalista Paulo Nogueira, editor do Diário do Centro do Mundo, a sensação de uma "justiça injusta".
"Ele jamais deu à Lava Jato uma coloração apartidária, assim como Joaquim Barbosa e o STF, um pouco atrás, para o Mensalão. Mais uma vez, fica a sensação que o principal alvo não é exatamente a corrupção, mas o PT e o governo Dilma. E disso resulta a percepção, entre tantos brasileiros, de uma justiça injusta, simbolizada há algum tempo em JB e agora em Moro", afirma Nogueira (leia mais aqui).
No início da Operação Lava Jato, Moro também flagrou operações de Youssef na Cemig. Mas afirmou que não iria investigar o caso porque não tinha conexão com a Petrobras – que também não era o foco inicial das investigações de Moro. No caso, a Investminas, do empresário Pedro Paulo Leoni Ramos, ex-ministro do governo Collor, teria pago uma propina de R$ 4,6 milhões à MO Consultoria, do doleiro Alberto Youssef, para vender alguns ativos à Light, empresa do Rio de Janeiro, controlada pela Cemig, estatal que é a joia da coroa mineira. Moro não tomou nenhuma providência relacionada ao caso – ao menos, até agora – porque, segundo ele próprio disse, não estaria relacionado aos desvios na Petrobras. Eis o que escreveu Moro:
A Investminas Participações S/A confirmou, em petição de 21/10/2014 (evento 18) pagamento de 4.600.000,00 (R$ 4.317.100,00 líquidos) à MO Consultoria. Alegou que remunerou conta indicada por Alberto Youssef em decorrência de intermediação e serviços especializados deste na venda de suas ações na Guanhães Energia S/A para a Light Energia S/A, com intervenção a CEMIG Geração e Transmissão S/A. Juntou como prova os contratos e notas fiscais pertinentes, todos com suspeita de terem sido produzidos fraudulentamente. Alegou que Alberto Youssef seria 'empresário que, à época, detinha conhecimento do setor elétrico e reconhecida expertise na área de assessoria comercial'. Aparentemente, trata-se de negócio que, embora suspeito, não estaria relacionado aos desvios na Petrobras.
Leia, abaixo, a reportagem da Exame sobre a presença de Moro no topo dos TTs do Twitter:
Da exame:
Um dia após a prisão de João Vaccari Neto, tesoureiro do PT até o fim da tarde de ontem, militantes do partido fazem tuitaço contra o juiz Sérgio Moro, responsável pela Operação Lava Jato, que investiga o escândalo de corrupção na Petrobras.
A hashtag do ato #ExplicaMoroPorqueSoPT é a primeira na lista dos trending topics do Twitter na tarde desta quinta-feira. Os manifestantes questionam a imparcialidade da Justiça e reinvindicam a investigação de casos de corrupção que envolvem o PSDB.
Na decisão que ordenou a prisão de Vaccari, Moro refutou a ideia de que a responsabilidade pelo escândalo seja exclusiva do PT. “Não se trata aqui de prisão contra a agremiação partidária à qual ele (Vaccari) pertence. A corrupção não tem cores partidárias. Não é monopólio de agremiações políticas ou de governos específicos”, escreveu na decisão.
Aos 42 anos, Moro é um dos principais especialistas em lavagem de dinheiro no país. Discreto, tende a não revelar muitos detalhes da sua vida pessoal. A esposa dele seria assessora jurídica de Flávio José Arns (PSDB), vice-governador do estado do Paraná, de acordo com informações do blog Conversa Afiada.
Professor de Direito Processual Penal Universidade Federal do Paraná, Moro concluiu o Program of Instruction for Lawyers da Universidade de Harvard e é doutor em Direito pela UFPR.
Em reação ao protesto favorável ao Partido dos Trabalhadores, internautas contrários ao governo tuítam com a hashtag #SomosTodosMoro, que não aparece na lista dos trending topics da rede de microblogs.
fonte: Brasil 247
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