Os dias que antecedem ao cinco de outubro, data limite para filiações partidárias com vistas às eleições seguintes, costumam expor as vísceras do sistema político brasileiro na sua feição mais grotesca. Neste 2013, vê-se o halloween de sempre.
Os profissionais do ramo pulam das canoas e tomam outras de assalto como os ratos se agitam nos naufrágios. A ordem é sobreviver. E, todos sabem, “fora do poder não há salvação”. E o poder é a razão final das querelas e seus queixumes.
Não o poder desejado como meio de realização daquilo que lhes parece, segundo suas doutrinas políticas, o mais necessário ao interesse comum, o que seria legítimo, mas como instrumentação de motivações patrimonialistas e vícios afins.
Se os que abdicam de compartilhar a robusta arca dos governos e seguem novos rumos não se apressam a explicitar suas diferenças na expressão substantiva que justificaria a desídia, tampouco os que ficam alegam relevâncias reconhecidas.
Luta-se, enfim, para permanecer no poder ou alcançar mais poder e, ainda no caso dos que bordejam à míngua as muralhas do palácio, voltar a frequentá-lo pela via do confronto, uma vez que nunca mais lhes convidaram para os licores do baile.
No sacolejo dos últimos instantes, quando os prazos já conspiram contra a serenidade, partidos que até ontem detinham a hegemonia política dos territórios murcham como maracujá de xepa e voltam a ser o que sempre foram: letrinhas.
Outros, já do chão se erguem frondosos, anabolizados por filiações em massa de aliados do governo, e a clareza de suas motivações doutrinárias é inversamente proporcional à volúpia com que muitos já se esgueiram para assinar suas fichas.
Partidos cujos principais tutores nem mais se ocupam em disfarçar motivações. Como disse o paulistano Gilberto Kassab sobre o partido que ele mesmo fundou: “Nem de direita, nem de esquerda, nem de centro”. Governista, é o bastante.
A tudo isto assiste um momento em que a representatividade alcança crítico desprestígio popular: os cidadãos brasileiros estão cada vez menos interessados nos políticos, mas, pior para eles, cada vez mais interessados em fazer política.
Diga-se: cada vez mais predispostos a fazer a política que lhes interessa, que não coincide com aquela de que se ocupam os políticos profissionais, e desafiam os surrados conceitos firmados nos velhos manuais da Guerra Fria.
Ao ver como se movem no prazo limite para nova acomodação partidária, fácil perceber que, apesar do ronco das ruas, os latifundiários do voto, ladeados por escoltas fisiológicas, ainda não baixaram os vidros das limousines. Ou estão surdos.
Ricardo Alcântara
Pauta Livre
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