terça-feira, 24 de abril de 2012
Dos erros e da verdade III
Se é verdade que o Crato desde sua mais tênue idade teve sempre em sua estrutura social uma elite prepotente, egocêntrica, mas ao mesmo tempo muito mau instruída, incompetente mesmo, também o é que por suas ruas históricas também passaram grandes nomes de vanguarda, pessoas visionárias, que compreendiam perfeitamente a importância geopolítica e econômica que os sopés da Chapada do Araripe poderiam ter no desenvolvimento do Ceará, do Nordeste e mesmo do Brasil. A mais dorida verdade, porém, é perceber que os energúmenos venceram a batalha.
O próprio Raimundo Borges, intelectual da mais alta e legítima estirpe do Cariri, confessa a injustiça colorida de indisfarçada vingança que foi a condenação e morte por fuzilamento de Pinto Madeira, reconhecido desafeto que era da heróica família Alencar. Mas também houve José Lourenço, expulso de sua concessão de terras dada pelo padrinho de todos os pobres, Padre Cícero, sob o calor do bombardeio que se abateu sobre o Caldeirão. José Marrocos, símbolo maior da intelectualidade cratense de todos os tempos, também amargou do azedo fel da perseguição e incompreensão de seus conterrâneos, e sequer mesmo pôde descansar em paz, pois que mesmo depois de morto ainda não teve seus bens facilmente desvencilhados em favor de quem lhes deixara por abusiva ordem do então Juiz da velha e briosa Comarca de Crato. Nos anos de chumbo da ditadura militar dos anos sessenta e setenta do século passado, também cá houveram os perseguidos do sistema, notadamente estudantes. Nos anos noventa, ciclicamente o mesmo torna a ocorrer.
Nos últimos anos, no que pese a incômoda decadência que se abate em toda a cidade, seja na zona rural com suas estradas esburacadas e mal cuidadas, seja na urbe, com suas ruas ainda mais esburacadas, de asfalto deformado e com uma das suas principais avenidas quase toda interditada, como é o que se dá com a avenida do canal, aquela velha elite persiste mais arrogante ainda. Exemplo é o do Prefeito Municipal, que apesar de todas as evidências de desterro, não aceita que a imprensa lhe critique no que quer que seja, processando prontamente tantos quanto não enxerguem a próspera, limpa e bem zelada cidade que ele governa em seus agora já raros discursos.
De bom mesmo só ficou a boemia e os artistas populares, todos absolutamente desvinculados daquela elite miupe, especialmente dos trôpegos detentores do poder local, a quem historicamente se pode sim atribuir as razões e as culpas de terem transmudado uma das mais célebres cidades cearenses na penúria atual. Agora, só resta mesmo admirar a beleza do passado, pois que o futuro se foi no bonde da história.
Jorge Emicles Pinheiro Paes Barreto
Adogado e professor
Colunista do site Contraponto Cariri
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