sábado, 14 de setembro de 2013

SECA DEVE SE PROLONGAR

Os problemas de seca prolongada registrados no semiárido brasileiro devem se agravar ainda mais nos próximos anos por causa das mudanças climáticas globais. Por isso, é preciso executar ações urgentes de adaptação e mitigação desses impactos e repensar os tipos de atividades econômicas que podem ser desenvolvidas na região. A avaliação foi feita por pesquisadores que participaram da 1ª Conferência Nacional de Mudanças Climáticas Globais (Conclima), realizada essa semana em São Paulo.

Segundo o Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres (Cenad), só nos últimos dois anos foram registrados 1.466 alertas de municípios no semiárido que entraram em estado de emergência ou de calamidade pública em razão de seca e estiagem. O primeiro relatório de avaliação nacional do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC) estima que esses eventos extremos aumentem principalmente nos biomas Amazônia, Cerrado e Caatinga e que as mudanças devem se acentuar a partir da metade e até o fim do século 21. Dessa forma, o semiárido sofrerá ainda mais no futuro com o problema da escassez de água que enfrenta hoje, alertaram os pesquisadores.

“Por isso, todas as ações de adaptação e mitigação pensadas para ser desenvolvidas ao longo dos próximos anos, na verdade, têm de ser realizadas agora”, disse Marcos Airton de Sousa Freitas, especialista em recursos hídricos e técnico da Agência Nacional de Águas (ANA). Segundo o pesquisador, o semiárido vive hoje o segundo ano do período de seca, iniciado em 2011, que pode se prolongar por um tempo indefinido. Um estudo realizado pelo órgão apontou que a duração média dos períodos de seca no semiárido é de 4,5 anos. Estados como o Ceará, no entanto, já enfrentaram secas com duração de quase nove anos, seguidos por longos períodos nos quais choveu abaixo da média estimada.

De acordo com Freitas, a capacidade média dos principais reservatórios da região está atualmente na faixa de 40%. E a tendência até o fim deste ano é de esvaziarem cada vez mais. “Caso não haja um aporte considerável de água nesses grandes reservatórios em 2013, poderemos ter uma transição do problema de seca que se observa hoje no semiárido, mais rural, para uma seca ‘urbana’ – que atingiria a população de cidades abastecidas por meio de adutoras desses sistemas de reservatórios”, alertou Freitas.

Ações de adaptação
Como a água tende a ser um recurso natural cada vez mais raro no semiárido nos próximos anos, Saulo Rodrigues Filho, professor da Universidade de Brasília (UnB), defendeu a necessidade de repensar os tipos de atividades econômicas mais indicadas para a região. “Talvez a agricultura não seja a atividade mais sustentável para o semiárido e há evidências de que é preciso diversificar as atividades produtivas na região, não dependendo apenas da agricultura familiar, que já enfrenta problemas de perda de mão de obra, uma vez que o aumento dos níveis de educação leva os jovens da região a se deslocar do campo para a cidade”, disse Rodrigues.

“Por meio de políticas de geração de energia mais sustentáveis, como a solar e a eólica, e de fomento a atividades como o artesanato e o turismo, é possível contribuir para aumentar a resiliência dessas populações a secas e estiagens agudas”, complementou. (Agência Fapesp)

E agora

ENTENDA A NOTÍCIA
Caso não haja um aporte considerável de água nos grandes reservatórios em 2013, poderá haver uma transição do problema de seca que se observa hoje no semiárido, mais rural, para uma seca ‘urbana’.

Saiba mais

Uma das ações de adaptação que começou a ser implementada no semiárido nos últimos anos e que, de acordo com os pesquisadores, contribuiu para diminuir sensivelmente a vulnerabilidade do acesso à água, principalmente da população rural difusa, foi o Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC).

As cisternas são construídas com placas de cimento pré-moldadas, feitas pela própria comunidade, e têm capacidade de armazenar até 16 mil litros de água. O programa tem contribuído para o aproveitamento da água da chuva em locais onde chove até 600 milímetros por ano.

“Mesmo com a seca extrema na região nos últimos dois anos, observamos que a água para o consumo da população rural difusa tem sido garantida pelo programa, que já implantou cerca de 500 mil cisterna. Com programas sociais, como o Bolsa Família, o programa Um Milhão de Cisternas tem contribuído para atenuar os impactos negativos causados pelas secas prolongadas na região”, afirmou

Saulo Rodrigues Filho, professor da Universidade de Brasília (UnB).

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