Os problemas de seca prolongada registrados no semiárido brasileiro
devem se agravar ainda mais nos próximos anos por causa das mudanças
climáticas globais. Por isso, é preciso executar ações urgentes de
adaptação e mitigação desses impactos e repensar os tipos de atividades
econômicas que podem ser desenvolvidas na região. A avaliação foi feita
por pesquisadores que participaram da 1ª Conferência Nacional de
Mudanças Climáticas Globais (Conclima), realizada essa semana em São
Paulo.
Segundo o Centro Nacional de Gerenciamento de
Riscos e Desastres (Cenad), só nos últimos dois anos foram registrados
1.466 alertas de municípios no semiárido que entraram em estado de
emergência ou de calamidade pública em razão de seca e estiagem. O
primeiro relatório de avaliação nacional do Painel Brasileiro de
Mudanças Climáticas (PBMC) estima que esses eventos extremos aumentem
principalmente nos biomas Amazônia, Cerrado e Caatinga e que as mudanças
devem se acentuar a partir da metade e até o fim do século 21. Dessa
forma, o semiárido sofrerá ainda mais no futuro com o problema da
escassez de água que enfrenta hoje, alertaram os pesquisadores.
“Por
isso, todas as ações de adaptação e mitigação pensadas para ser
desenvolvidas ao longo dos próximos anos, na verdade, têm de ser
realizadas agora”, disse Marcos Airton de Sousa Freitas, especialista em
recursos hídricos e técnico da Agência Nacional de Águas (ANA). Segundo
o pesquisador, o semiárido vive hoje o segundo ano do período de seca,
iniciado em 2011, que pode se prolongar por um tempo indefinido. Um
estudo realizado pelo órgão apontou que a duração média dos períodos de
seca no semiárido é de 4,5 anos. Estados como o Ceará, no entanto, já
enfrentaram secas com duração de quase nove anos, seguidos por longos
períodos nos quais choveu abaixo da média estimada.
De acordo
com Freitas, a capacidade média dos principais reservatórios da região
está atualmente na faixa de 40%. E a tendência até o fim deste ano é de
esvaziarem cada vez mais. “Caso não haja um aporte considerável de água
nesses grandes reservatórios em 2013, poderemos ter uma transição do
problema de seca que se observa hoje no semiárido, mais rural, para uma
seca ‘urbana’ – que atingiria a população de cidades abastecidas por
meio de adutoras desses sistemas de reservatórios”, alertou Freitas.
Ações de adaptação
Como
a água tende a ser um recurso natural cada vez mais raro no semiárido
nos próximos anos, Saulo Rodrigues Filho, professor da Universidade de
Brasília (UnB), defendeu a necessidade de repensar os tipos de
atividades econômicas mais indicadas para a região. “Talvez a
agricultura não seja a atividade mais sustentável para o semiárido e há
evidências de que é preciso diversificar as atividades produtivas na
região, não dependendo apenas da agricultura familiar, que já enfrenta
problemas de perda de mão de obra, uma vez que o aumento dos níveis de
educação leva os jovens da região a se deslocar do campo para a cidade”,
disse Rodrigues.
“Por meio de políticas de geração de
energia mais sustentáveis, como a solar e a eólica, e de fomento a
atividades como o artesanato e o turismo, é possível contribuir para
aumentar a resiliência dessas populações a secas e estiagens agudas”,
complementou. (Agência Fapesp)
E agora
ENTENDA A NOTÍCIA
Caso
não haja um aporte considerável de água nos grandes reservatórios em
2013, poderá haver uma transição do problema de seca que se observa
hoje no semiárido, mais rural, para uma seca ‘urbana’.
Saiba mais
Uma das ações
de adaptação que começou a ser implementada no semiárido nos últimos
anos e que, de acordo com os pesquisadores, contribuiu para diminuir
sensivelmente a vulnerabilidade do acesso à água, principalmente da
população rural difusa, foi o Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC).
As cisternas são
construídas com placas de cimento pré-moldadas, feitas pela própria
comunidade, e têm capacidade de armazenar até 16 mil litros de água. O
programa tem contribuído para o aproveitamento da água da chuva em
locais onde chove até 600 milímetros por ano.
“Mesmo
com a seca extrema na região nos últimos dois anos, observamos que a
água para o consumo da população rural difusa tem sido garantida pelo
programa, que já implantou cerca de 500 mil cisterna. Com programas
sociais, como o Bolsa Família, o programa Um Milhão de Cisternas tem
contribuído para atenuar os impactos negativos causados pelas secas
prolongadas na região”, afirmou
Saulo Rodrigues Filho, professor da Universidade de Brasília (UnB).
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