Por Alexandre Lucas*
As pessoas aprendem umas com as outras, tendo em vista que o processo educativo é fruto da prática das relações históricas e sociais. Ninguém nasce pronto, as coisas mais elementares como comer, andar, vestir e a higienização corporal exigem uma mediação inicial entre seres humanos.
É na prática social dos seres humanos que acontecem os processos de mediação, interação e internalização, o que possibilita a aprendizagem, a aproximação e potencialização para assimilação de novos saberes.
Como a aprendizagem não é inata e numa sociedade dividida em classes sociais distintas e antagônicas, os processos de mediações e interações são diferentes no que concerne ao acesso do que é historicamente produzido pela humanidade, tanto do ponto de vista material como imaterial, notadamente as internalizações serão diferenciadas. Ficando as camadas populares a margem desta produção. O acesso e a quantificação de palavras, lugares, meios tecnológicos, saberes e fazeres são elementos primordiais para ampliar as visões sociais de mundo das pessoas.
Outro fator importante nesta compreensão é que precisamos ir além do sensor comum, do local, do particular, do grupal, dos saberes do cotidiano, do popular. É preciso uma apropriação das formas mais complexas, contextualizadas e sistematizadas do conhecimento. O conhecimento popular não deve ser dispensando e nem cristalizado, mas servir como ponto de partida, como prática social inicial para ser problematizada com o conhecimento sistematizado gerando uma reelaboração do conhecimento inicial e uma nova pratica social. Nesta lógica, a intenção é tornar o saber erudito, em um saber popular. Se os dirigentes do capital se apropriam do saber erudito para dirigir a sociedade é necessário que os dirigidos pelo capital se apropriem do saber erudito para serem dirigentes.
É a partir deste entendimento histórico-crítico da aprendizagem que o Coletivo Camaradas apresentar uma abordagem pedagógica que visa contribuir para uma formação política, estética e artística comprometida com as camadas populares, tendo como viés o tripé: estudo contextualizado, vivência e experimentação.
No que diz respeito ao estudo contextualizado, partimos do princípio que o saber se entrelaça com outros saberes, e que a arte, foco da nossa atuação deve ser compreendida no seu contexto. A arte não se explicar a partir da arte, pois ela é fruto de uma produção histórico-social. Esse estudo deve sempre iniciar pela prática social dos sujeitos e a partir desta prática problematizar.
A vivência é o elo de aproximação da relação artista/obra/público distanciada numa sociedade em que produção estética e artística é estratificada socialmente. A vivência possibilita outras formas de compreensão da realidade.
Vivenciar pode gerar estranhamento, apropriação de conhecimento, pertencimento. O contato com a fala do estranho, com outros espaços, outras visualidades e novas relações sociais podem gerar dentro de um processo dialético novas práticas.
A experimentação é uma ferramenta importante para instigar o processo criativo e a reflexão social, como também criar relações de identidade, pertencimento e empoderamento social. A experimentação aqui proposta não remete para domínio da técnica, o que não significa dizer que dispensa a preocupação com os elementos estéticos e reforça a necessidade de possibilitar que as pessoas se vejam capazes produzir estética e artisticamente.
Essa abordagem deve nortear a prática organizativa e política do Coletivo Camaradas visando possibilitar a constituição de sujeitos capazes de pensar uma arte que tenha forma e conteúdo comprometida com a humanização e assimilar a democratização dos saberes para as camadas populares como ingrediente essencial para o processo de empoderamento social.
*Pedagogo, artista-educador e coordenador do Coletivo Camaradas.
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