domingo, 1 de abril de 2012

O inventor de Potengi

A viagem de um sonho. Aos 6 anos de idade, Francisco Dantas de Oliveira, popularmente conhecido na pequena Potengi, no sertão cearense, por Françulí, alçou voo nas asas da imaginação, ao ver um avião pela primeira vez. Era o metal no ar inacessível a uma criança que trabalhava no roçado. Nunca mais o menino esqueceu daquele momento. Todos os dias, até hoje, aos 70 anos de idade, o agricultor sonha voando.

Criou novos aviões, dirigível, balões, ultraleves, pássaros, navio, candeeiros estilizados e inúmeros outros instrumentos quem têm servido até para auxiliar os moradores do sertão em tempos de estiagem.

Com esse dom para a criação de instrumentos, o homem da roça, com hábitos simples, recebeu o título de "Inventor do Sertão", que será o nome de um museu, previsto para ser inaugurado esse mês no centro da cidade de Potengi.

A rua em que o inventor tem a oficina, onde confecciona desde as ferramentas de trabalho aos intentos, recebeu o nome de "Beco de Françulí". Faz vizinhança com o museu, onde estão cerca de 300 aviões grandes, pequenos e médios. Tamanhos e formas diferenciados, ordenados num salão, onde também há um boneco, réplica do inventor, com um avião na mão.

Mas, os inventos não ficam só por aí. O senhor "Santos Dumont" se aperfeiçoou ao longo dos anos, graças à fascinação pelo voo. É isso mesmo. Tudo que voa neste mundo chama a sua atenção. Em qualquer lugar que se encontre, tem que haver por perto uma de suas criações, seja um pássaro de zinco recortado ou um bonito avião.

Todos os dias, praticamente, Françulí sai de seu sítio, no Monte Belo, em Araripe, percorrendo um trajeto de 20 quilômetros até Potengi. Nesta semana, aproveitou bem as chuvas de um inverno pouco rigoroso para fazer a limpeza no roçado. Veio pouco à cidade para visitar o museu, que se transformou em seu lugar predileto.

As viagens de casa para a cidade se tornaram cansativas, pois eram feitas de bicicleta. Não deu outra: construir um novo transporte. E não foi um avião, mas uma motocicleta. A Tex 50, uma cinquentinha, que, de quebra, traz o sonho em sua inscrição, foi projetada em dois anos. Um trabalho que resultou num transporte que pode levar horas de conversa com o inventor.

E ele se sente feliz em ter que percorrer 80 quilômetros com apenas três litros de gasolina. "São quatro viagens", calcula. Um grande feito para um homem que vem desafiando as leis da física e da matemática, nos ´insights´ criativos. Como toda criatividade, os objetos também vêm carregados de luz. Lampiões de gás, lamparinas estilizadas, com estrelas e tudo mais, e até feitas em forma de avião, como se não bastasse, dividem o espaço das invenções.

Tentar copiar na terra, com madeira, o primeiro avião que viu no ar foi o grande prazer da infância. O aperfeiçoamento veio com os anos. O metal das latas de óleo comestível, cortado com a tesoura da mãe, que não gostava nem um pouco das travessuras de Françulí, era usado na confecção das aeronaves. Marcava uma nova fase dos experimentos. Depois veio o zinco, utilizado até hoje por ele.

É impressionante o poder criativo do "Inventor do Sertão". Ver rapidamente um navio enquanto passeava por Fortaleza foi o suficiente para projetá-lo, em vários andares, com detalhes em seu interior. Também desenvolveu o primeiro avião em que viajou. A descoberta do espaço, com o voo real, foi o presente de um amigo, encantado com o sonho do inventor.

DN

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