Os analistas fazem coro ao dizer que a inflação mensal de junho e julho terá na Copa do Mundo um forte componente sazonal de alta. Mas a realização do evento em si e o consequente aumento da demanda por bens e serviços não são os únicos fatores para a variação de preços. A restrição de oferta em alguns setores e a deficiência estrutural do Brasil, que ficarão mais evidentes durante o Mundial, serão um agravante para turbinar a inflação no período.
O economista do Besi Brasil, Flávio Serrano, entende que o problema da oferta ficará mais evidente durante o Mundial. "Se em outros países a inflação foi afetada pela Copa, no Brasil vai ser agravada pela restrição de oferta. Então, aqui vai ser pior", ressaltou. O professor de Economia do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec), Reginaldo Nogueira, alerta que é preciso ter cuidado ao se falar em reajuste abusivo de preços.
"Como o Brasil tem incapacidade de oferecer infraestrutura de serviços para essa demanda toda, a variável que ajusta isso é o preço", diz. O setor aéreo é um exemplo de oferta pressionada, segundo Nogueira. "Não se fez os investimentos necessários em aeroportos. Não se conseguiu aumentar a oferta como deveria. Se há um número limitado de voos e de assentos, o preço vai subir, até reduzir a demanda".
Infraestrutura
Dada a falta de infraestrutura, nem o estabelecimento de um teto para as tarifas de passagens aéreas durante a Copa do Mundo, adotado pelas companhias Azul e Avianca (no valor de R$ 999 por trecho), deve impedir a variação de preços. "É mais uma estratégia de marketing", diz o economista da Concórdia Corretora, Flávio Combat. "As companhias até teriam capacidade (de elevar a oferta), mas mais uma vez se tem gargalo em relação à própria estrutura de aeroportos." A Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear) crê que a ideia de que a Copa representa um grande momento para o setor não se reflete na realidade. Conforme a Abear, o haverá mais impacto sobre a logística do que sobre o preço, uma vez que a demanda total não sofrerá grande variação, por conta da diminuição dos passageiros corporativos durante o torneio.
Setor hoteleiro
Já no setor hoteleiro, a escassez na oferta não parece ser um problema. Só no Rio de Janeiro, sede da final da Copa do Mundo, 36 hotéis devem ser inaugurados até o evento, segundo o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH), Enrico Fermi. Ele garante que não haverá abusos nos preços cobrados pelo setor e não aposta em demanda excedente. "Quem fala em aumento de preços, ou é por falta de informação, ou por má-fé", diz.
Segundo Fermi, ainda em 2007, quando o Brasil foi definido como país-sede, 840 hotéis firmaram contrato com a Match Services AG, empresa contratada pela Fifa para fornecer ingressos para jogos e acomodação. Assim, parte dos quartos ficaria reservada para as seleções e para a comissão técnica da autoridade mundial do futebol, enquanto outra parte seria ofertada no site da companhia, a preços estabelecidos há sete anos e reajustados de acordo com a inflação no período.
"São tarifas compatíveis com o que é praticado em outros países", destaca Fermi. O presidente da ABIH diz ainda que parte desses quartos já foi descontratada, mas não aposta em um aumento intenso de preços com base na lógica da oferta e demanda. "Se a própria operadora oficial devolve, quem vai demandar além dela? Eu acho que não (vai haver demanda excedente). Vai vender para quem?".
O Fórum de Operadores Hoteleiros no Brasil (FOHB), que representa 25 das maiores redes hoteleiras do Brasil, informou que até agora apenas 40% dos apartamentos ofertados nas cidades-sede já estão vendidos.
Diário do Nordeste
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